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Fotos por Everson Tavares |
O poeta Manoel de Barros completará 96 anos em 19 de Dezembro, e em sua homenagem a atriz e arte-educadora Ramona Rodrigues e a Cia das Artes organizaram durante todo o dia de ontem (19/11) um Labirinto Poético na Praça Ary Coelho, no Centro de Campo Grande.


Mergulhado naqueles pequenos corredores me encontrei com Raquel e Felipe, duas crianças, para ser justo, pré-adolescentes, simpáticos, conversaram comigo apresentando o projeto da professora. Cada palavra era enfatizada por um brilho nos olhos que alimentava a alma do ouvinte. Eles estudam na E. E. Joaquim Murtinho e ajudaram sua professora Ramona a confeccionar os mantos que pendurados formavam o caminho onde eu estava preso, intencionalmente preso, e não perdido. Raquel declarou ter se apaixonado por Memórias Inventadas: A Terceira Infância. Já Felipe, com uma oratória invejável, confessou que só agora, em contato com o homenageado, teve pela primeira vez o prazer pela leitura.
Conhecendo melhor o trabalho da organizadora com aquelas crianças, vendo a garra que elas defendiam o projeto, e falando sobre os quinze anos de estudos da professora sobre o autor, o capricho de cada peça que formava aquele labirinto, e mais tarde ouvindo a atuação magnífica daqueles garotos recitando, dramaticamente, os textos de Manoel de Barros, na mesma inocência que foram escritos, como quando disse que só amava as crianças e as árvores. Ali, jogado de alma naquele labirinto, eu conheci um dos projetos mais nobres da existência humana: usar a poesia para incentivar a leitura, o teatro, a interpretação, o engajamento, a produção e organização de um evento cultural, usar a vida como estudo de caso para educar.
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Ramona Rodrigues |
É essa definição que encontrei para o trabalho da arte-educadora Ramona Rodrigues, pra quem neste momento dedico as lágrimas de emoção enquanto escrevo, pela incrível contribuição que tem dado na formação de cidadãos capazes de dar sentido à sensibilidade.
O evento também contou com a participação de artistas amigos que transformaram a homenagem em um grande espetáculo. A liberdade expressiva do Teatro Imaginário Maracangalha, Breno Moroni, Jerry Espíndola, entre outros.
Manoel em Memórias Inventadas: a segunda infância, disse que não amava que botassem data em sua existência, usava mais era encher o tempo, a data maior era o quando. Se ele escrevesse em algum momento sobre a experiência que tive nesta homenagem à sua existência, não teria escrito algo diferente de: Tem hora que eu sou quando uma criança, eterna poesia, canto e calmaria.
"Eu não amava que botassem data na minha existência. A gente usava mais era encher o tempo. Nossa data maior era o quando. O quando mandava em nós. A gente era o que quisesse ser só usando esse advérbio. Assim, por exemplo: tem hora que eu sou quando uma árvore e podia apreciar melhor os passarinhos. Ou tem hora que eu sou quando uma pedra. E sendo uma pedra eu posso conviver com os lagartos e os musgos. Assim: tem hora eu sou quando um rio. E as garças me beijam e me abençoam. Essa era uma teoria que a gente inventava nas tardes." - Memórias Inventadas: a segunda infância. Manoel de Barros.
O repórter-fotográfico Everson Tavares com seu olhar artístico fez belas imagens do evento, confira:
Pra vocês, toda poesia que houver nessa vida!
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EVERTON SOUZA
Publicitário, amante de música, poesia, café e bolachas de chopp.