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Por que Julianne Moore me fez um fotógrafo melhor em 99 minutos



Notas: esse texto não contem spoilers além das cenas que aparecem no trailer.

“Eu tenho mal de Alzheimer”, disse a personagem de Julianne Moore aos filhos em uma das cenas mais comoventes que já vi no cinema. A renomada professora de linguística começa a esquecer algumas palavras e se perder por Manhattan até descobrir que possui um tipo raro e precoce da doença. Enquanto lida com a perda de suas memórias, Julianne me deu uma lição sobre fotografia que jamais conseguiria em livros.

Manoel de Barros dizia:
"O Tempo só anda de ida.
A gente nasce, cresce, envelhece e morre.
Pra não morrer
É só amarrar o Tempo no Poste.
Eis a ciência da poesia:
Amarrar o Tempo no Poste!"

A fotografia poderia ser uma das soluções para a “ciência da poesia” da qual brinca Manoel. Fotografar é como amarrar o tempo num poste de quatro lados. Julianne Moore perdia gradativamente suas lembranças. Junto delas, partiam também os traços da personalidade – a doença levava embora quem ela era. As tentativas de driblar o Alzheimer pareciam inúteis. Até ela abrir um álbum de fotografias.
 

Suprimi o choro num estalo (sim, chorei mais do que no Star Wars). Já me disseram muitas vezes que fotografar é sobre ângulos, enquadramentos e composições. Ser fotógrafo tem a ver com criar fotografias que satisfaçam o cliente, administrar seu próprio negócio, definir preços e etc. Julianne Moore me provou que não é nada disso!

Fotografar é sobre criar memórias fora da cabeça; amarrar no poste as emoções de um determinado instante; mostrar ao outro como ele pode ver a si mesmo; é um diálogo entre almas eternizado. Todo o resto é bobagem. Como li em um blog de casamento, ser fotógrafo – profissional ou ama-a-dor – é criar lembranças que valham a pena.
O cineasta, fotógrafo e escritor, Cris Marker, definiu isso muito bem quando disse: "A foto é a caça, é o instinto de caça sem a vontade de matar. É a caça dos anjo. Perseguimos, miramos e atiramos e clac! Ao invés de um morto, nós fazemos um eterno."

Julianne Moore mostrou cada detalhe disso nos 99minutos de interpretação em “Para Sempre Alice”.



https://www.flickr.com/photos/eversontavares


Everson Tavares

Everson Tavares

Freelancer Sem Fronteiras. Tecnologia do Blogger.