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Adeus coque!



Olho para o meu pulso esquerdo e lá está a pulseira de couro com costuras e um barbante acastanhado, já desgastada pelos anos de serventia; e o bracelete albino que se revela quando o adereço corre pelo braço é, pois, uma evidência do préstimo. Olho para o meu pulso direito e nada o envolve. Ontem, meu último elástico de cabelo abraçava esta minha outra munheca. Não abraça mais. Não preciso mais prender meus cabelos em um coque, como fazia até semana passada.

É agosto em seu primeiro terço. O segundo agosto do penteado undercut samurai que ruiu ante o chio das tesouras, lá na shop do barber Guntendorfer, do camelódromo. Os mercadores, dentre seus produtos tão estrangeiros quanto algumas palavras deste parágrafo, viram um ex-cabeludo partir com uma mochila nas costas e uma sacolinha preta nas mãos; alguns gramas mais leve e com toneladas de sensações que rebentavam nas curvas da minha face e no movimento dos meus olhos.

Era uma cabeleira que trazia consigo simbologias, alegorias, significados; impossível não demonstrar em caretas as reverberações da alma. Afinal, foram quase dois anos sentindo os fios crescendo, a começar de um dezembro distante em que experimentei o enfrentamento de oceanos e desertos não apenas na presença dos décimos segundos meses do ano ou nas ausências dos décimos terceiros salários, mas nelas também.

Não carrega mais; é carregada na sacolinha e almeja chegar às mãos de um mestre peruqueiro habilidoso, para tentar alegrar o espírito quebrantado de um miúdo subjugado por radio e quimioterapias. Ainda não sei se vai. Mas deseja.

 


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