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Eu vim de São Paulo


Encontra-se de tudo numa feira de rua. Todo tipo de gente gosta de pastel. Quem não gosta de pastel gosta de chicória ou de escarola. Há quem não goste de chicória e gosta de escarola, que é mais chique. Para quem come chicória, escarola é a mesma coisa, quase sempre.

Certa vez, numa dessas feiras de bairro distante numa cidade média do interior paulista para os lados do oeste, uma discussão entre uma pequena senhora de médio porte e um pequeno feirante japonês chama a atenção do restante do quarteirão:

—O senhor tem escarola?

—Tenho sim. Aqui.

—Não, isso não é escarola. Eu quero escarola.

—Sim, eu planto, isso é escarola.

—Não senhor, isso é chicória. Totalmente diferente. Eu vim de São Paulo, eu sei das coisas.

Nisso a feira parou de funcionar. O moço do pastel abaixou o volume do gás, para ouvir melhor. A que descascava alho congelou os dedos, para ouvir melhor. Até mesmo o político que já pré-candidato e todo eleições passeava a sorrisos largos a se fotografar a torto e a direito resolveu parar e analisar meditativo os abacaxis ao lado da banca do pobre senhor japonês – que não sabia das coisas, segundo a pequena senhora vinda de São Paulo – como quem ouve por acaso a conversa ao lado.

—Sim, este é escarola. – Reafirma o feirante japonês – Chicória é nome brasileiro, escarola é inglês.

—Não. Olha bem para isso. É completamente diferente, não pode ser escarola. Eu vim de São Paulo, lá a gente sai para fazer feiras. Feiras enormes, bem maiores que estas. Lá tem todo tipo de produtores, até orgânicos, sabe. Eu vim de São Paulo e sei que isso é chicória, completamente diferente de escarola. Não são nomes diferentes para a mesma coisa, pode até ser o mesmo nome, mas não é isso.

—É o que eu tenho, este escarola. Ou tenho alface, da crespa. Tenho couve, novinha.

—Obrigado. Estão todas muito lindas, inclusive a chicória, que é bem diferente da escarola.

E sai andando a feira a senhora vinda de São Paulo com duas sacolas de pano, dessas que alguma marca de roupa de São Paulo vendeu a um preço bem bacana, vazias, uma em cada ombro, rebolando e olhando para cima, além do nível da mesa das bancas. Na certa não encontrara nenhum dos seus produtos vindos de São Paulo.

Pobre produtor orgânico japonês de uma feira de bairro numa cidade média do interior paulista. Se ao menos tivesse uma assessoria paulistana que lhe pusesse um cartaz anunciando a origem orgânica de seus produtos. Talvez algumas lousas bem desenhadas a giz coloridos explicando os nutrientes e benefícios de algumas hortaliças, talvez uma dessas apresentando a escarola como uma variedade de chicória e mostrando a diferença singela das folhas. Talvez teria vendido para a pequena senhora vinda de São Paulo.






Everton Souza

Everton Souza

Freelancer Sem Fronteiras. Tecnologia do Blogger.