Praça de Casa Forte, nanquim sobre papel, 1935 [MARX, Roberto Burle. Arte e paisagem] |
A
antiga pracinha continua servindo aos moradores do bairro; foi
construída junto com a Cohab há algumas décadas e mesmo com um
recente parque urbano no lugar, com laguinho e patos, a praça
prossegue atraindo futebolistas, de areia e de salão. Os pneus das
gangorras estão carcomidos; as correntes dos balanços estão
entrelaçadas, agora sem os balanços; os escorregadores, caiados de
azul e laranja, estão descascados; touceiras esverdeadas
multiplicam-se pelos recantos da pista de caminhadas, da mesma forma
que florescem as mudas de árvores plantadas por alunos da escola.
Atletas
de fim de semana e de dias de folga são os principais
frequentadores. Além deles, clientes da padaria, que cruzam
diariamente os canteiros, sempre sedentos por pão e às vezes leite,
ovos, queijo coalho, prato, mussarela ou mortadela. Na turma dos
esportistas, dois garotos com uniformes grandes e desgastadados, que
não dá pra identificar de qual clube tricolor é, chutam a bola de
uma barra à outra, na quadra de areia. As barras de metal, antes
brancas, pipocam espinhas enferrujadas. Igualmente oxidadas, as
barras de exercícios e piruetas não suportariam, sem se partir em
farelos, algum moleque trapezista demonstrando seus predicados
giratórios para o coleguinha.
As
barras de concreto dos banquinhos de repouso, damas, xadrez ou
namoro, permanecem firmes, mas vazias. Já na quadra de cimento,
mesmo sem barras metálicas, um grupo de jogadores se diverte com
barrinhas de chinelo de dedo; cinco passos do pé direito ao pé
esquerdo, está feito o gol; três competidores em cada equipe. No
time dos descamisados, dois marmanjos e um menino; no outro, um pai
de seus trinta e cinco anos e mais dois garotos. Com um bocado de
suor, dribles, gols, abraços, gritos e sorrisos, e num dia de
semana, sem dúvidas, são barrinhas de folga.